domingo, 19 de setembro de 2010

Série " Em busca do passado culinário" - As delícias do Tio Moacyr


Sempre me perguntam se gosto de cozinhar desde criança ou se herdei este amor pela arte culinária da mamãe, avó, tias, tios e etc.


E minha resposta é NÃO. Fui fazer gastronomia por buscar algo novo para minha vida, mas confesso que estou errada... O prazer de cozinhar corre pelas minhas veias e é em busca deste “passado culinário da minha família”, digamos assim que estou resgatando.


Começo minha série de textos com meu querido tio Moacyr de Castro, o irmão mais velho da minha mãe Natalina.


Meu tio era uma pessoa a frente do seu tempo, tinha um humor invejável, muitos amigos e gostava de cozinhar.


Começou trabalhar cedo e conseguiu uma carreira brilhante dentro da área escolhida. Assim como eu, seus hobbies sempre estavam presentes e um deles era sua paixão por rádio amador, eletrônicos em geral e filmes.


Foi o primeiro da família a ter televisão, anos depois com o surgimento do vídeo cassete ele não tinha um e sim dois e uma rádio amadora no fundo da sua casa. Lembro-me que uma vez fomos visitá-lo e ele me levou com meu irmão para falarmos na rádio. Como era criança e ainda encabulada me recordo dele com o microfone na mão dizendo: fala alguma coisa Mare e eu disse: “NÃO, EU TENHO VERGONHA”, essas foram as minhas primeiras palavras no meio de comunicação... rsrsrs


O amor por filmagem, filmes, cópias, edições e itens relacionados também herdei dele, pena que não teve tempo para ver toda esta modernidade, com certeza faríamos uma grande parceria tecnológica hoje.


Mas partindo para a área de interesse maior que é a gastronomia, meu tio era um excelente cozinheiro. Todas as pescarias ele que limpava os peixes e preparava ali mesmo, tinha uma técnica única de preparar cafés, meu outro Tio Antonio me contou essa história que aconteceu em uma viagem de pescaria para o Pantanal.


Segundo ele, tio Moacyr foi encarregado de ser o cozinheiro da excursão e num dos dias pediram para que ele fizesse um cafezinho e rapidamente ele trouxe para todos. Questionado com a rapidez no preparo ele disse: “Aproveitei a água dos ovos que cozinhei estava limpinha e ainda quente”... rsrsrsr, uma técnica dessas só poderia vir dele.


Durante seu período como telefonista era comum as pessoas de outros setores virem tomar seu café, mesmo este não sendo feito com água de ovos cozidos, era simplesmente delicioso e também tenho vários relatos sobre isso.


E o arroz com frango? Confesso que esta foi uma descoberta recente para mim. Minha mãe Natalina e a tia Isa afirmam que o preparo dele era único e ninguém até agora conseguiu se igualar. Será que tinha algum segredo? Penso que era o “tempero” de amor que ele colocava em tudo.


Meu tio partiu em dezembro de 1990 vitima de leucemia, mas lutou bravamente até o último momento. Eu era muito jovem e não tinha idéia da falta que ele faria anos depois.


Confesso que ao escrever este texto meus sentimentos estão em ebulição por acreditar o quanto é importante honrar nossos antepassados, até para termos base de onde viemos e para onde iremos.


Penso com saudades, mas com muito carinho e respeito por esta pessoa maravilhosa que me levou passear de moto pela primeira vez, com quem falei minhas primeiras palavras na rádio, o tio querido que presenteava-nos com filmes dos Trapalhões, dentre tantos momentos bacanas.


Quando voltou da Suíça depois de visitar sua filha minha mãe fez uma moqueca brasileira para recebê-lo em casa e lá estava ele cheio de chocolates suíços de presentes para nós.


Eu sempre digo que a gastronomia tem um poder imenso sobre as coisas e como pesquisadora da área busco utilizá-la com ferramenta para ter acesso às outras vivências, experiências e lembranças sempre de maneira simples e honesta.


Estas singelas palavras são o retrato disso. Através deste momento, desejo homenagear e eternizar a personalidade de uma das pessoas mais simples e incríveis que o mundo já teve.


Lindo ser humano que veio ao mundo pelo amor dos meus avôs e que partiu deixando o rastro do amor que semeou durante os anos que esteve conosco.


Que eu possa trilhar meu caminho seja na vida pessoal ou na profissional sempre me inspirando nos exemplos que deixou.


Com carinho da sobrinha


Mare

2 comentários:

Charlene disse...

Uau!!Café com água dos ovos..hehehe pra quem não sabe cozinhar como eu essa ai é bem perfeita..rsrsr:)
Frango o arroz comi ainda criança tb na casa de minha avó e aqui nós chamamos esse prato de Maria Isabel, mas não pergunte pq.
Adorei sua história.
Valeu Mare e sucesso!!!

Chef Mariana de Castro disse...

Oi Charlene!
Sempre surgem novas técnicas..kkkkk, mas o nome Maria Isabel para o arroz com frango foi demais...rsrsr
beijos
Mare

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